RESUMO:
MENEZES, Vera
Lúcia; SILVA, Marina Morena dos Santos e; GOMES, Iran Felipe Alvarenga e;
Sessenta anos de Linguística Aplicada: de onde viemos e para onde vamos? In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. Linguística Aplicada: um caminho com
diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2011. p. 25-50.
Nesse
artigo Menezes, Silva e Gomes realizam um percurso histórico sobre a
Linguística Aplicada, bem como uma análise dos periódicos internacionais e
nacionais que lidam diretamente com o tema.
O
que é Linguística Aplicada? Menezes elucida que é consenso de que o objeto de
investigação da LA é “a linguagem como prática social, seja no contexto da
aprendizagem de língua materna ou outra língua, seja em qualquer outro contexto
onde surjam questões relevantes sobre o uso da linguagem”. Para Kaplan (1985, p. 4), “a noção de que a
língua deve ser estudada em relação a um contexto tomou conta do pensamento dos
linguísticas aplicados”.
Como
se sabe, a LA surgiu com o intuito de trabalhar questões de técnicas de ensino
de línguas estrangeiras, e hoje se expandiu, existindo inúmeras formas de
pesquisa, de caráter transdisciplinar, portanto utilizando-se de inúmeras
teorias e métodos.
Cavalcanti
(1986, p. 50) destaca que a LA “foi vista durante muito tempo como uma
tentativa de aplicação da linguística (Teórica) à prática de ensino de
línguas”.
Menezes
(2011) defende a hipótese de que existem três visões distintas no campo da LA
na atualidade. A primeira concerne ao ensino e aprendizagem (ex. trabalhos
sobre estratégias de aprendizagem de língua estrangeira). A segunda de natureza
de aplicação linguística (ex. Investigações sobre os princípios e parâmetros da
gramática gerativa na interlíngua de aprendizes de língua estrangeira). Já a
terceira refere-se a investigações aplicadas sobre estudos de linguagem como
prática social (ex. estudos sobre identidade).
Breve
História da LA
O
primeiro curso de LA ocorreu em 1946 na Universidade de Michigan nos Estados
Unidos. A partir de então, vários grupos, em especial nos Estados Unidos e
Inglaterra (Michigan, Washington, Edinburgh, etc.) foram criados
concentrando-se no ensino e aprendizagem de língua, em especial o inglês como
língua estrangeira ou segunda língua. Em 1948, Charles Fries, da mesma
universidade, inicia o periódico Language
Learning: A Quarterly Journal of Applied Linguistics, posteriormente mudado
para Language Learning: A Journal of
Research in Language Studies. Essa revista propunha tratar sobre as
implicações pedagógicas da linguística no ensino de línguas. Na verdade,
Menezes elucida que “a LA não nasceu como aplicação da linguística, mas como
uma perspectiva indutiva, isto é, uma pesquisa advinda de observações de uso da
linguagem no mundo real, em oposição à língua idealizada” (MENEZES, SILVA,
GOMES, 2011). Segundo o Concise Oxford
Companion to the English Language, “a origem do termo deve sua origem nos
programas americanos de ensino de línguas durante e após a segunda guerra
mundial”.
Em
sua progênie, a LA foi fortemente influenciada pelo estruturalismo linguístico
e behaviourismo comportamental, sendo que a partir de 1950, a disciplina se
expandiu tanto no exterior quanto no Brasil[1].
Atualmente,
com o crescimento da LA, surgem novas vertentes de estudo a cada momento a
partir das inúmeras possibilidades de pesquisa face ao mundo real. É, portanto,
fragmentada, multidisciplinar, adaptativa às mudanças do mundo pós-moderno. Na
verdade, tem um caráter (In)disciplinar, conforme propõem Rajagopalan (1997) e Moita
Lopes (2011), em virtude dessa concomitante expansão e heterogeneidade. De tal
sorte, seu objeto de estudo vai do uso da linguagem no cotidiano, na educação,
em diversos contextos (jurídico, midiático, médico, etc.), até a variação
linguística (dialetos, bilinguismo, sotaques), língua dos sinais, política
linguística, aprendizagem, aquisição, tradução, estudo da interlíngua,
letramento, ensino de língua mediado por novas tecnologias, avaliação, entre
outros[2].
Ainda
sobre a conceituação do que seja a Linguística Aplicada, Celani destaca:
Em uma
representação gráfica da relação da LA com outras disciplinas com as quais ela
se relaciona, a LA não apareceria na ponta de uma seta partindo da linguística.
Estaria provavelmente no centro gráfico, com setas bidirecionais dela partindo
para um número aberto de disciplinas relacionadas com a linguagem, dentre as
quais estaria a Linguística, em pé de igualdade, conforme a situação, com a
Psicologia, a Antropologia, a Sociologia, a Pedagogia ou a tradução. As imagens
da encruzilhada e da ponte com duas mãos de direção, sugeridas por Pap, estão
bem claras na mente dos linguistas aplicados. (1992, p. 21)
Afirmaríamos,
portanto, que a Linguística estuda a língua (internalizada, psíquica), como um
constructo idealizado, separado do social, da langue ao passo que a Linguística Aplicada estuda a língua como
fenômeno no contexto de uso, na prática.
Sobre
o futuro da LA, parece que a tendência é o recrudescimento da diversidade
temática e contato cada vez maior (hibridismo) de teorias. Essa LA tende-se a
se tornar muito mais indisciplinar (aberta), como afirma Moita Lopes, do que
disciplinar (fechada). Aliás, “ser ou não ser um linguista aplicado é hoje
muito mais uma questão de afiliação ideológica do que de identidade
epistemológica. Tanto é assim que temos pesquisadores trabalhando com questões
de ensino que se rotulam como linguistas e outros trabalhando com questões de
linguística textual que se rotulam como linguistas aplicados” (MENEZES, SILVA, GOMES, 2009).
Os
autores encerram o artigo apresentado alguns gráficos sobre os temas,
metodologias e teorias utilizados em um número considerável de pesquisas
(artigos e ensaios especialmente), tanto no Brasil (691 no total), quanto no
exterior (total de 1446 estudos analisados).
Muito
pertinente. Bom Panorama da LA no Brasil e Exterior
REFERÊNCIAS
CELANI, M. A.
Afinal, o que é linguística aplicada. In:
PASCHOAL, M. S. Z.; CELANI, M. A. A. (Orgs.). Linguística
Aplicada: da aplicação da linguística à linguística transdisciplinar. São Paulo: EDUC, 1992. p. 15-23.
KAPLAN, R. B. Applied Linguistics, the state of the
art: is there one? English Teaching Forum.
p. 1-6. April, 1985.
RAJAGOPALAN, K.
A prática da linguística e a linguística da prática: um depoimento pessoal. Intercâmbio. v. 6. p. 3-8, 1997.
[1] Em um
recenseamento realizado por Menezes (2011), a autora destaca: “A LA se expandiu na segunda metade do século
passado, tanto no exterior como no Brasil, com a criação, de norte ao sul do
país, de muitas linhas de pesquisa, programas de pós-graduação ou área de
concentração em LA. Alguns marcos dessa expansão são: (1) a criação, em 1970,
do Programa de Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas da PUC-SP,
posteriormente Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada e Estudos da
Linguagem (LAEL), com a criação do doutorado em 1980, conforme informações na
página na web do programa. Na década de 80, o programa lançou a revista
D.E.L.T.A (Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicados), embora
com foco maior na linguística; e (2) a criação do Programa de Pós-Graduação em
Linguística Aplicada na Universidade Estadual de Campinas e seu periódico Trabalhos
em Linguística Aplicada (CUNHA, 2003; CAVALCANTI, 2004). Esses dois
programas de pós-graduação foram responsáveis pela formação de linguistas aplicados
de vários estados brasileiros e pela disseminação da pesquisa em conjunto com a
produção de muitos outros programas brasileiros que criaram áreas de concentração
em LA como a UFMG, por exemplo, ou muitos outros programas em Letras ou Linguística
que abriram linhas de pesquisa nessa vertente. (3) Outro marco é a criação da
ALAB (Associação de Linguística Aplicada do Brasil) em 1990”. (MENEZES, SILVA,
GOMES, 2009)
[2] Esses temas
aqui listados foram extraídos de alguns períodos, entre os quais RBLA – Revista Brasileira de Linguística
Aplicada, disponível em: www.periodicos.letras.ufmg.br/rbla/,
Annual Review of Applied Linguistics, disponível em: http://journals.cambridge.org/action/displayIssue?iid=8364388,
e Applied Linguistics, disponível em: http://www.appliedlinguistics.org/.
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