RESUMO:
FELICE, Maria
Inês Vasconcelos Felice. As
Representações como processo de significação. Cidade: editora, ano.
Introdução
- É um recorte da tese cujo tema busca investigar as representações reveladas pelos professores sobre os alunos ingressantes no ensino superior;
- Busca investigar se e como as concepções desses professores sobre aluno imaturo e aluno ideal afetam a identidade dos alunos (dos calouros);
- Embasamento sociointeracionista vygostkyana, representação em Bronckart (1999), que se apoia em Habermas, mais os conceitos de Bakhtin atinentes à dimensão discursiva implicada na formação de representações.
- Trabalho se pauta na hipótese de que o professor reflexivo constrói suas interações com base em representações construi
- Texto tem três partes: 1. Percurso teórico; 2. Contexto e Metodologia da pesquisa; 3. Análise (das principais representações que afloraram nas entrevistas) e apresenta considerações sobre os efeitos do discurso dos professores para a constituição da identidade desses alunos.
Fundamentação Teórica
QUESTÕES SOBRE
A REPRESENTAÇÃO
- As pesquisas com abordagem teórica fundamentada no referencial das representações sociais encontra uma boa parte de trabalhos no campo da Linguagem e Educação;
- Moita Lopes: “os significados construídos em sala de aula têm papel preponderante na definição de identidades sociais que desempenhamos” (2002, p. 191).
- Celani e Magalhaes (2001, p. 4) falam de uma instância de “mediação de significações” entre as relações institucionais e os aprendizes. Relacionam-se a crenças (valores e verdades) que definem quem tem o poder de falar, quais são os discursos valorizados, etc.
- PODER = Stuart Hall (apud Silva) afirma que é o “poder” que tornam as coisas verdadeiras. (poder com base foucaultiana) = fragmentado, multifacetado, pulverizado nas microrelações, nas microinstâncias e não apenas nos AIE (Marx, Althusser). => Os significados são construídos a partir de práticas discursivas.
- INTERACIONISMO = Bronckart (fonte geradora)
- INTERACIONISMO = Vygostky e Habermas (principais teóricos)
- Habermas = FILOSOFIA DA COMUNICAÇÃO / TEORIA DA SOCIEDADE - o sujeito busca o consenso junto a outros sujeitos, busca conhecer os objetos e agir através deles.
- SIEBENEICHLER afirma: “A pragmática universal tenta reconstruir sistematicamente as condições ideais de todas as ações comunicativas voltadas ao consenso, ou de todo entendimento racional possível, no quadro de uma teoria comunicativa”. PRAGMÁTICA UNIVERSAL: busca mostrar o que uma pessoa precisa ter para participar de uma situação envolvendo a fala” . a PRÁTICA discursiva (COMUNICATIVA) se justifica pois o sujeito tem INTENÇÕES, ASPIRAÇÕES. Mas não são sempre EXPLÍCITOS, pois limitam-se ao CONTEXTO.
- SISTEMA DE REPRESENTAÇÕES se organiza em TRÊS MUNDOS do sujeito: a) um fato (mundo objetivo); b) uma norma válida (mundo social) e c) uma vivência subjetiva (mundo subjetivo)
a) UM FATO (MUNDO OBJETIVO) - ESTÃO
organizados os conhecimentos coletivos acumulados. (“MEMÓRIA SOCIAL”)
b) UMA NORMA VÁLIDA (MUNDO SOCIAL) –
ESTÃO organizados as formas de convenção, aceitação e cooperação entre os
indivíduos (Ex. não se aceita agir de qualquer forma em qualquer lugar,
ETIQUETA, LINGUAGEM, VESTUÁRIO, etc.)
c) UMA VIVÊNCIA SUBJETIVA (MUNDO SUBJETIVO) – TOTALIDADE de ações e
experiência do indivíduo. (acumulo de suas experiências).
HABERMAS:
destaca a ação comunicativa em que dois ou mais agentes “procuram expressamente
chegar a um acordo de modo a poder cooperar”
- perspectiva PRAGMÁTICA com uma abordagem teleológica (comunicação com
um fim).
Noção de INTERAÇÃO:
busca (se apoia na)
Necessidade de entendimento
|
Voltado para
a obtenção de um consenso
|
No reconhecimento
mútuo dos significados do mundo representado
|
Isso implica:
compreensão da mensagem, e concordância de normas sociais.
BRONCKART
(interacionismo sócio-discursivo)
Por meio da ATIVIDADE
DA LINGUAGEM =>
|
os sujeitos
“JULGAM” a ação dos outros e as
próprias
|
No
reconhecimento mútuo dos significados do mundo representado
|
Enfim: Para
Bronckart : As representações são SOCIALMENTE construídas pelas INTERAÇÕES
e SUSTENTAM o caráter histórico,
cultural e social das atividades humanas. (Essa base é fundamental para se analisar as
representações em sala)
BAKHTIN: destaca o valor do IDEOLÓGICO nas enunciações, mostra como o social e o
histórico fazem parte das INTERAÇÕES HUMANAS e como o indivíduo se apropria
subjetivamente desse cenário. Signo
=> IDEOLÓGICO. (não se desvincula do social) Signo é construído socialmente,
nas interações. Na interação confrontam
o SIGNO em construção com os signos já construídos e partilhados. /. Esse conceito casa bem com o conceito de
representação de Bronckart.
BAKHTIN = DIALOGISMO. O uso do SIGNO dependerá do contexto, do destinatário, do lugar, etc. Enfim, o discurso se
caracteriza pela INTERAÇÃO entre falante e ouvinte.
A significação
da palavra não está nela mesma, mas na interação entre locutor e receptor.
Para Bakhtin
somos multilíngues, falamos várias LINGUAGENS (léxico, estrutura do texto,
conteúdos) a depender do contexto.
Contexto da Pesquisa
Etapa A: Entrevista
a 6 professores ministrando aulas no 1º período de cursos de graduação de uma instituição
federal de ensino superior (2 de Exatas; 2 de Biomédias e 2 de Humanas),
áudio-gravadas, transcritas.
Entrevistas
foram aplicadas como propósito de perceber como eles IDENTIFICAVAM os
calouros.
Análise em uma
perspectiva etnográfica interpretativista (cf. ERICKSON, 1986).
Verificar se
os professores faziam discriminação entre o aluno do VESTIBULAR e o do PROCESSO
SELETIVO SERIADO (alunos de escola pública) e que reserva 50% das vagas para
esses alunos.
Justificativa:
O TRABALHO SE JUSTIFICA em virtude do termo “imaturo” atribuída a esses alunos
oriundos desse PSS PROCESSO SELETIVO SERIADO.
Selecionou 10
alunos de cada turma para que os professores preenchessem uma ficha de
observação e para ‘triangular” com os
dados das entrevistas.
Etapa B,
aplicou a mesma entrevista com professores do 2º período, nas mesmas turmas
frequentadas pelos alunos anteriormente selecionados para pesquisa. + entrevistas com 2 alunos (dos selecionados)
de cada turma: total de 12 entrevistados.
Representação dos professores sobre os
alunos ingressantes
- É válido lembrar que as representações reveladas podem ser compreendidas apenas hipoteticamente (somente hipóteses), JÁ QUE ESTÃO IMPREGANADAS DE PROPRIEDADES PSÍQUICAS ÀS QUAIS NÃO SE TEM ACESSO TOTAL.
RESULTADOS:
Professores
|
Representação
|
Admitem não
haver distinção entre os alunos VT (Vestibular Tradicional) – PSS (Proesso
Seletivo Seriado)
|
Acreditam
que os alunos PSS sofrem discriminação por ser mais fácil seu acesso.
|
Sobre o
aluno “Imaturo”
|
Imaturo
=> ligado à idade (associa idade à aparência física)
Maturidade =
reprovar 2 ou 3 vezes no Vestibular.
Imaturidade
=> Conversas paralelas e brincadeiras em sala de aula (CONVERSA = sinônima de descompromisso com
o curso - CONVERSA: não poderia ser aula mal planejada? Que
não
corresponde às expectativa do aluno.
|
“os alunos
não têm compromisso com o curso”
|
CONTRADIÇÃO
Nas Fichas
de Observação, os professores destacam
que a maioria dos alunos 87.9% se mantém ATENTO às explicações.
= não
corrobora com o discurso.
CONTRADIÇÃO
Na
observação (Fichas) os professores consideram aqueles alunos concentrados e
educados (93,1%). Assim, falam de alunos mal educados de uma maneira geral.
|
Aluno ideal
seria
Autônomo
Pontual,
motivado, assíduo, curioso, participante, responsável
Sem
necessidade de prof.
|
Nas fichas
os alunos afirmam que 70% dos alunos aparentam autonomia.
Para alguns,
o aluno “ideal” não existe.
Apesar de darem essas qualidades aos
alunos (autônomos , pontuais, etc.) eles não os consideram ideais.
São
pontuais,
Não faltam
sem justificativa,
Mantém
postura respeitosa diante do professor.
|
RESULTADOS
TENDÊNCIA / REPRESENTAÇÃO
|
REALIDADE
|
Professores
tendem a construir uma REPRESENTAÇÃO COLETIVA dos alunos
(desinteressados, descompromissados, barulhentos, desatentos, etc.)
|
A observação
de seus alunos, demonstra que os mesmos são interessados, pontuais, bem
diferentes dessa representação coletiva.
|
“Os alunos
não tem interesse”.
|
O
professores não fazem uma reflexão da própria prática, de sua metodologia, ou
questiona a causa de desinteresse dos alunos.
|
Identidade
social do aluno DIFERE
|
Da
Identidade individual de seus próprios alunos.
|
Considerações:
Todas as
afirmações dos professores provém do senso comum. (Nenhuma afirmação foi fundamentada com base
em alguma teoria da psicologia que caracterizasse um indivíduo imaturo).
O fato do
aluno “não estar pronto”, exime o professor dos problemas de aprendizagem
desses mesmos alunos. (Problemas que podem ter sido causados pelo discurso
avaliador redutivo e homogeneizante dos professores em relação aos alunos).
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