domingo, 9 de dezembro de 2012

Sessenta anos de LA: de onde viemos e para onde vamos?



RESUMO:

MENEZES, Vera Lúcia; SILVA, Marina Morena dos Santos e; GOMES, Iran Felipe Alvarenga e; Sessenta anos de Linguística Aplicada: de onde viemos e para onde vamos?  In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. Linguística Aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2011.  p. 25-50.

Nesse artigo Menezes, Silva e Gomes realizam um percurso histórico sobre a Linguística Aplicada, bem como uma análise dos periódicos internacionais e nacionais que lidam diretamente com o tema.   
O que é Linguística Aplicada? Menezes elucida que é consenso de que o objeto de investigação da LA é “a linguagem como prática social, seja no contexto da aprendizagem de língua materna ou outra língua, seja em qualquer outro contexto onde surjam questões relevantes sobre o uso da linguagem”.  Para Kaplan (1985, p. 4), “a noção de que a língua deve ser estudada em relação a um contexto tomou conta do pensamento dos linguísticas aplicados”.
Como se sabe, a LA surgiu com o intuito de trabalhar questões de técnicas de ensino de línguas estrangeiras, e hoje se expandiu, existindo inúmeras formas de pesquisa, de caráter transdisciplinar, portanto utilizando-se de inúmeras teorias e métodos.
Cavalcanti (1986, p. 50) destaca que a LA “foi vista durante muito tempo como uma tentativa de aplicação da linguística (Teórica) à prática de ensino de línguas”.
Menezes (2011) defende a hipótese de que existem três visões distintas no campo da LA na atualidade. A primeira concerne ao ensino e aprendizagem (ex. trabalhos sobre estratégias de aprendizagem de língua estrangeira). A segunda de natureza de aplicação linguística (ex. Investigações sobre os princípios e parâmetros da gramática gerativa na interlíngua de aprendizes de língua estrangeira). Já a terceira refere-se a investigações aplicadas sobre estudos de linguagem como prática social (ex. estudos sobre identidade).  

Breve História da LA

O primeiro curso de LA ocorreu em 1946 na Universidade de Michigan nos Estados Unidos. A partir de então, vários grupos, em especial nos Estados Unidos e Inglaterra (Michigan, Washington, Edinburgh, etc.) foram criados concentrando-se no ensino e aprendizagem de língua, em especial o inglês como língua estrangeira ou segunda língua. Em 1948, Charles Fries, da mesma universidade, inicia o periódico Language Learning: A Quarterly Journal of Applied Linguistics, posteriormente mudado para Language Learning: A Journal of Research in Language Studies. Essa revista propunha tratar sobre as implicações pedagógicas da linguística no ensino de línguas. Na verdade, Menezes elucida que “a LA não nasceu como aplicação da linguística, mas como uma perspectiva indutiva, isto é, uma pesquisa advinda de observações de uso da linguagem no mundo real, em oposição à língua idealizada” (MENEZES, SILVA, GOMES, 2011). Segundo o Concise Oxford Companion to the English Language, “a origem do termo deve sua origem nos programas americanos de ensino de línguas durante e após a segunda guerra mundial”. 

Em sua progênie, a LA foi fortemente influenciada pelo estruturalismo linguístico e behaviourismo comportamental, sendo que a partir de 1950, a disciplina se expandiu tanto no exterior quanto no Brasil[1].
Atualmente, com o crescimento da LA, surgem novas vertentes de estudo a cada momento a partir das inúmeras possibilidades de pesquisa face ao mundo real. É, portanto, fragmentada, multidisciplinar, adaptativa às mudanças do mundo pós-moderno. Na verdade, tem um caráter (In)disciplinar, conforme propõem Rajagopalan (1997) e Moita Lopes (2011), em virtude dessa concomitante expansão e heterogeneidade. De tal sorte, seu objeto de estudo vai do uso da linguagem no cotidiano, na educação, em diversos contextos (jurídico, midiático, médico, etc.), até a variação linguística (dialetos, bilinguismo, sotaques), língua dos sinais, política linguística, aprendizagem, aquisição, tradução, estudo da interlíngua, letramento, ensino de língua mediado por novas tecnologias, avaliação, entre outros[2]. 
Ainda sobre a conceituação do que seja a Linguística Aplicada, Celani destaca:

Em uma representação gráfica da relação da LA com outras disciplinas com as quais ela se relaciona, a LA não apareceria na ponta de uma seta partindo da linguística. Estaria provavelmente no centro gráfico, com setas bidirecionais dela partindo para um número aberto de disciplinas relacionadas com a linguagem, dentre as quais estaria a Linguística, em pé de igualdade, conforme a situação, com a Psicologia, a Antropologia, a Sociologia, a Pedagogia ou a tradução. As imagens da encruzilhada e da ponte com duas mãos de direção, sugeridas por Pap, estão bem claras na mente dos linguistas aplicados. (1992, p. 21)

Afirmaríamos, portanto, que a Linguística estuda a língua (internalizada, psíquica), como um constructo idealizado, separado do social, da langue ao passo que a Linguística Aplicada estuda a língua como fenômeno no contexto de uso, na prática. 
Sobre o futuro da LA, parece que a tendência é o recrudescimento da diversidade temática e contato cada vez maior (hibridismo) de teorias. Essa LA tende-se a se tornar muito mais indisciplinar (aberta), como afirma Moita Lopes, do que disciplinar (fechada). Aliás, “ser ou não ser um linguista aplicado é hoje muito mais uma questão de afiliação ideológica do que de identidade epistemológica. Tanto é assim que temos pesquisadores trabalhando com questões de ensino que se rotulam como linguistas e outros trabalhando com questões de linguística textual que se rotulam como linguistas aplicados” (MENEZES, SILVA, GOMES, 2009).   
Os autores encerram o artigo apresentado alguns gráficos sobre os temas, metodologias e teorias utilizados em um número considerável de pesquisas (artigos e ensaios especialmente), tanto no Brasil (691 no total), quanto no exterior (total de 1446 estudos analisados).  
Muito pertinente. Bom Panorama da LA no Brasil e Exterior

REFERÊNCIAS

CELANI, M. A. Afinal, o que é linguística aplicada. In: PASCHOAL, M. S. Z.; CELANI, M. A. A. (Orgs.). Linguística Aplicada: da aplicação da linguística à linguística transdisciplinar. São Paulo: EDUC, 1992. p. 15-23.  

KAPLAN, R. B. Applied Linguistics, the state of the art: is there one? English Teaching Forum. p. 1-6. April, 1985. 

RAJAGOPALAN, K. A prática da linguística e a linguística da prática: um depoimento pessoal. Intercâmbio. v. 6. p. 3-8, 1997.  


[1] Em um recenseamento realizado por Menezes (2011), a autora destaca: “A LA se expandiu na segunda metade do século passado, tanto no exterior como no Brasil, com a criação, de norte ao sul do país, de muitas linhas de pesquisa, programas de pós-graduação ou área de concentração em LA. Alguns marcos dessa expansão são: (1) a criação, em 1970, do Programa de Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas da PUC-SP, posteriormente Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL), com a criação do doutorado em 1980, conforme informações na página na web do programa. Na década de 80, o programa lançou a revista D.E.L.T.A (Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicados), embora com foco maior na linguística; e (2) a criação do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada na Universidade Estadual de Campinas e seu periódico Trabalhos em Linguística Aplicada (CUNHA, 2003; CAVALCANTI, 2004). Esses dois programas de pós-graduação foram responsáveis pela formação de linguistas aplicados de vários estados brasileiros e pela disseminação da pesquisa em conjunto com a produção de muitos outros programas brasileiros que criaram áreas de concentração em LA como a UFMG, por exemplo, ou muitos outros programas em Letras ou Linguística que abriram linhas de pesquisa nessa vertente. (3) Outro marco é a criação da ALAB (Associação de Linguística Aplicada do Brasil) em 1990”. (MENEZES, SILVA, GOMES, 2009)
[2] Esses temas aqui listados foram extraídos de alguns períodos, entre os quais RBLA – Revista Brasileira de Linguística Aplicada, disponível em: www.periodicos.letras.ufmg.br/rbla/, Annual Review of Applied Linguistics, disponível em: http://journals.cambridge.org/action/displayIssue?iid=8364388, e Applied Linguistics, disponível em:  http://www.appliedlinguistics.org/.

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